a sociedade rica e na moda tem pouca ou nenhuma substância, vivendo obcecada apenas consigo. O seu desporto é principalmente os escândalos, alimenta-se de mexericos e custa a imaginar como passaria a sociedade os seus dias sem eles.
«Passamos o tempo a criar coisas para não nos mexermos, carros para não termos de andar, controlos remotos para não nos levantarmos do sofá, e depois pagamos um ginásio. Pagamos porque criamos utensílios que nos permitem evitar actividades físicas (...) E é exactamente por isso, devido a essa extrema sedentarização, que nos vemos obrigados a mexer-nos. Para isso, basta pagar por uma coisa que evitamos a todo o custo e pela qual trabalhamos tantas horas diárias durante tantos anos: esforço físico. Passar essas oito horas diárias num escritório acinzentado, sentados, e ainda pagar para fazer exercício físico é uma excelente parábola da vida moderna».
Afonso Cruz_ O macaco bêbedo foi à ópera - Da embriaguez à civilização (2019) Fundação Francisco Manuel dos Santos e Afonso Cruz (2019)
Defronte de mim o meu amigo, o banqueiro, grande comerciante e açambarcador notável, fumava como quem não pensa (...) Voltei-me para ele, sorrindo.
-- É verdade: disseram-me há dias que você em tempos foi anarquista...
-- Fui, não: fui e sou. Não mudei a esse respeito. Sou anarquista.
-- Essa é boa! Você anarquista! Em que é que você é anarquista?... Só se você dá à palavra qualquer sentido diferente...
-- Do vulgar? Não; não dou. Emprego a palavra no sentido vulgar.
-- Quer você dizer, então, que é anarquista exactamente no mesmo sentido em que são anarquistas esses tipos das organizações operárias? Então entre você e esses tipos da bomba e dos sindicatos não há diferença nenhuma?
-- Diferença, diferença, há... Evidentemente que há diferença. Mas não é a que você julga (...) Você comparou-me a esses parvos dos sindicatos e das bombas para indicar que sou diferente deles. Sou, mas a diferença é esta: eles (sim, eles e não eu) são anarquistas só na teoria; eu sou-o na teoria e na prática (...) Ia eu dizendo que, como era lúcido por natureza, me tornei anarquista consciente. Ora o que é um anarquista? É um revoltado contra a injustiça de narcermos desiguais socialmente - no fundo é só isto. (...) Ora, na altura da nossa propaganda em que lhe estou falando, descobri uma coisa. No grupo de propaganda - não éramos muitos; éramos uns quarenta, salvo erro - dava-se este caso: criava-se tirania. (...)
Uns mandavam em outros e levavam-nos para onde queriam; uns impunham-se a outros e obrigavam-nos a ser o que eles queriam; uns arrastavam outros por manhas e por artes para onde eles queriam. Não digo que fizessem isto em coisas graves; mesmo, não havia coisas graves ali em que o fizessem. Mas o facto é que isto acontecia sempre e todos os dias, e dava-se não só em assuntos relacionados com a propaganda, como fora deles, em assuntos vulgares da vida. Uns iam insensivelmente para chefes, outros insensivelmente para subordinados (...) E repare que se passava num grupo de gente que se unira para especialmente para fazer o que pudesse para o fim anarquista - isto é, para combater, tanto quanto possível, as ficções sociais, e criar, tanto quanto possível, a liberdade futura (...) Agora ponha o caso num grupo muito maior, muito mais influente (...) Então é que eu vi com que bestas e com que covardões estava metido! (...) Aquela corja tinha nascido para escravos. Queriam ser anarquistas à custa alheia. Queriam a liberdade, logo que fossem os outros que lha arranjassem, logo que lhes fosse dada como um rei dá um título!
É verdade que Sand sente necessidade de dar - afecto, tempo, cuidados, carinho, atenção -, mas desde que tal não equivalha a renunciar à sua liberdade de pensamento e à sua independência. Esta dualidade é visível através de um subterfúgio estilístico: de facto, Sand refere-se a si mesma, alternadamente, no género feminino e masculino. É ela a primeira, aliás, a ser apanhada nessa contradição, nesse equívoco tão moderno que avalia a mulher enquanto independente ou amante, nunca considerando ambas as condições.
" Os operários portugueses foram recebidos à porta da fábrica da Dura Automotive, que produz componentes eletrónicos para automóveis, na cidade de Plettenberg, por colegas alemães munidos de cartazes, panfletos em português e um tradutor oficial.
Os folhetos explicavam que entre 850 a 900 trabalhadores alemães da fábrica de Plettenberg serão despedidos, segundo disse à agência Lusa Fabian Ferber, representante local do maior sindicato da indústria metalúrgica na Alemanha, o Industriegewerkschaft Metall.
“Há cerca de 11 meses a sede [da multinacional], nos Estados Unidos, anunciou o despedimento de cerca de 850 a 900 pessoas, de um total de 1300″, da fábrica de Plettenberg, explicou Fabian Ferber, acrescentando que até hoje os trabalhadores alemães estão à espera de informação sobre compensações sociais e reformas antecipadas.
“Não estamos contra os trabalhadores portugueses, eles não são nossos inimigos. A Dura é que é a nossa inimiga. Nós estamos a lutar pelos nossos empregos”, garantiu. (...)
“A Dura queria que fizéssemos horas extra para terminar uma encomenda. A empresa tem de gerir as encomendas durante as horas de serviço normais, por isso, a comissão de trabalhadores tem direito a recusar o pedido de horas extra. Foi o que fizemos e, então, trouxeram os trabalhadores portugueses”, afirmou.
O sindicato recorreu aos tribunais que, inicialmente, deram razão aos trabalhadores alemães, mas a empresa apresentou um novo plano de trabalho aos juízes e conseguiu garantir a permanência dos operários portugueses na Alemanha.
“O plano da empresa diz que durante a semana a fábrica pertence à Dura Alemanha, ao passo que aos fins de semana a fábrica passa a ser Dura Portugal. A fábrica troca de mãos por dois dias, algo completamente novo”, segundo Ferber."
in http://24.sapo.pt/economia/artigos/operarios-portugueses-recebidos-com-protesto-de-colegas-locais-em-fabrica-na-alemanha