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Nariz de cera

anotações e apontamentos que dizem tudo - de, por e para mim - por si mesmos.

Nariz de cera

anotações e apontamentos que dizem tudo - de, por e para mim - por si mesmos.

Inútil muro

25.09.20

Inútil muro sobre outro muro.

Invisível o que se lê,

o visível que se não lê. 

 

António Ramos Rosa in UM RASTRO - Obra Poética I

Assírio & Alvim (2018)

 

A young black girl, scarcely more than a child herself, looks after a baby girl for a white family. 1969, South Africa. © Ian Berry/Magnum Photos

in https://wepresent.wetransfer.com/story/ian-berry-and-bieke-depoorter/

o poder de querer

25.09.20

No seu tempo, e num país onde a esmagadora maioria da população rural era ainda analfabeta, Deolinda de Jesus era uma das poucas pessoas, na aldeia, que sabia ler e escrever. Não frequentou nenhuma escola, mas a mestra do ateliê onde aprendeu costura ensinava a ler e a escrever às meninas que quisessem. Ela foi das poucas que quis. Ao longo de toda a vida a sua letra firme e bem desenhada encheu cartas e cartas com as quais mitigou a solidão de ter os filhos longe, permitindo-lhe, por seu turno, ler sem intermediários, as que eles lhe foram mandando [...] A certa altura, Deolinda partilhou esta ferramenta com o marido. Foi no final dos anos 50, quando surgiu a oportunidade de Jaime ser cobrador da Casa do Povo. Era um trabalho de fim de semana, mas garantia mais uma fonte de rendimento para a família. Porém, e como condição de admissão, exigia o domínio ainda que muito básico, das letras e da tabuada por causa das contas. Deolinda chamou a si a tarefa de ensinar ao marido os rudimentos da leitura e da escrita. As aulas decorriam ao serão, na mesa da sala de jantar. De lápis na mão, caderno de linhas ou quadriculado à frente, lampião de azeite na mesa, Jaime engolia o orgulho e rebentava de humilhação quando a mulher o emendava, uma vez e outra e outra. Mas o facto é que conseguiu o emprego, sinal de que lhe aproveitaram as lições. 

 

Manuela Gonzaga – António Variações, Entre Braga e Nova Iorque (2018)

Manuela Gonzaga e Bertrand Editora (2018)

 

 

saber ler saber escutar

01.09.17

Junto a ese hombre, que sabía escuchar puesto que sabía leer

 

 

David Foenkinos - La biblioteca de los libros rechazados (2016)
Titulo original: Le Mystère Henri Pick
Traducción de María Teresa Gallego Urrutia y Amaya García Gallego
Penguin Random House Grupo Editorial S.A.U. (febrero, 2017)

 

van-gogh-homem-lendo-aquarela-e-carvao-1881-museu-

 

Farmer sitting at the fireside and reading, 1881

 

Vincent van Gogh

 

sofreguidão, lentidão

04.07.17

E é aí que 

O ritmo (que é a nossa melhor parte) exige que recomece 

A ler avidamente. É um momento penoso porque a sofreguidão

Desfaz a leitura; 

 

 

Maria Gabriela Llansol - O Começo de Um Livro É Precioso
Assírio & Alvim (outubro 2003)

 

 

Girl in the Hammock, 1873

 Winslow Homer

(1836-1910)

 

 

-te

25.05.17

magritte-lesamants2.jpg

 René MAGRITTE

Los amantes II (1928)

 

  

«Ler-te 

Mansamente. Amar-te mansamente. Inverter-te a química 

Da intensidade e nela repousar o pensamento que te 

Permite. E, quando assim, lamber-te o fulgor em que 

Me abismo______________________________________.»

 

 

Maria Gabriela Llansol - O Começo de Um Livro É Precioso
Assírio & Alvim (outubro 2003)

 

leitura natural, inocente, primitiva

01.04.17

 

... deitando para trás as páginas dilaceradas pelas análises intelectuais, sonhas recuperar uma condição de leitura natural, inocente, primitiva...

 

 

Italo Calvino – Se Numa Noite de Inverno Um Viajante (1979)
Coleção Mil Folhas PÚBLICO (2002)

 

 

Amiguinhos lendo (1992)

Jane Tanner 

 

 

ler

31.03.17

- É Ludmilla que assim fala, com convicção e calor. Está sentada diante do professor, vestida de maneira simples e elegante, de cores claras. O seu modo de estar no mundo, cheia de interesse pelo que o mundo pode dar-lhe, afasta o abismo egocêntrico do romance suicida que acaba por se afundar dentro de si mesmo. (...)

O professor está à sua secretária; no cone da luz de um candeeiro de mesa sobressaem as suas mãos suspensas ou levemente pousadas no volume fechado, como numa carícia triste. 

- Ler - diz ele - é sempre isto: há uma coisa que ali está, uma coisa feita de escrita, um objecto sólido, material, que não se pode alterar, e através dessa coisa comparamo-nos com outra coisa qualquer que faz parte do mundo imaterial, invisível, porque é só pensável, imaginável, ou porque existiu e já não existe, passando, perdida, inalcançável, para o país dos mortos...

- ... Ou que não está presente porque ainda não existe, algo de desejado, de temido, possível ou impossível - diz Ludmilla -, ler é ir ao encontro de qualquer coisa que está para ser e que ainda ninguém sabe o que será...  

 

 

Italo Calvino – Se Numa Noite de Inverno Um Viajante (1979)
Coleção Mil Folhas PÚBLICO (2002)

 

 

 

Thoughts

John Henry Henshall

1883