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Nariz de cera

anotações e apontamentos que dizem tudo - de, por e para mim - por si mesmos.

anotações e apontamentos que dizem tudo - de, por e para mim - por si mesmos.

Nariz de cera

07
Dez20

evidente

Cecília

Dee Dee deu-me Alka-Seltzer e um copo de água. A única coisa que me ajudou a melhorar foi uma rapariga sentada do outro lado da sala de espera. Tinha um corpo fabuloso, boas e esguias pernas, e trazia uma mini-saia. E vestia meias compridas, com ligas, e sob a saia, cuecas cor-de-rosa.

Calçava sapatos de salto alto.

« Estás a olhar para ela, não estás?», perguntou Dee Dee.

«Não posso evitar.»

«É uma desavergonhada.»

«Evidente.»

Charles Bukowski – Mulheres (1978)
Coleção Mil Folhas PÚBLICO (2003)

 

 

18
Nov20

que viagem

Cecília

Recém-chegado da tropa no ultramar, no início dos anos 70, António ainda não pertencia ao meio musical. Mas, pela forma de estar, de vestir, e de ser, começava a ser um Extraterrestre, num país onde era pecado ser diferente, numa sociedade que tranquilizava os seus terrores arcaicos com a estandardização. «Sempre Ausente», um poema do álbum Anjo da Guarda, ilustra estes tempos e esta busca:

 

Diz-me que solidão é esta 

Que te põe a falar sozinho

Diz-me que conversa

Estás a ter contigo

Diz-me que desprezo é esse

Que não olhas p'ra quem quer que seja

Ou pensas que não existe

Ninguém que te veja

Que viagem é essa

Que te diriges em todos os sentidos

Andas em busca dos sonhos perdidos 

 

 

Manuela Gonzaga – António Variações, Entre Braga e Nova Iorque (2018)

Manuela Gonzaga e Bertrand Editora (2018)

 

 

 

 

17
Nov20

chegado

Cecília

Porque és sem tensão o resultado,

o chegado. A praia e o centro do olhar

no extremo e simples.

[...]

à varanda de ti próprio.

À varanda do mar.

[...]

No espaço interno mar

onde chegaste

o desejo coincide em si

no mar. 

 

 

António Ramos Rosa in O DESEJADO CHEGADO  - Obra Poética I

Assírio & Alvim (2018)

 

 

16
Jul20

sóbria fusão

Cecília

Sóbrio o teu corpo me pede 

penetração: nomes puros:

os de boca, braços, mãos

sobre a terra e sobre os muros.

 

Sóbrio o teu corpo me pede

nomes justos, nomes duros:

os de terra, fogo e punhos,

claros, acres, escuros. 

 

António Ramos Rosa in ANIMAL OLHAR - Obra Poética I

Assírio & Alvim (2018)

 

 

02
Jul20

saber receber

Cecília

Meus olhos não fabricam

a realidade [...]

Meus olhos não fabricam mas encontram. 

A terra que se enche já vem cheia 

[...]

Os homens dançam por vezes.

Este momento é teu. 

 

António Ramos Rosa in ANIMAL OLHAR  - Obra Poética I

Assírio & Alvim (2018)

 

 

07
Mai20

a maneira

Cecília

a maneira como as pessoas vivem quando julgam que não olham para elas sempre me surpreendeu, tudo aquilo que se esconde à vista 

 

António Lobo Antunes – A Última Porta Antes da Noite (2018)

Publicações Dom Quixote (2018)

 

 

16
Abr20

lembram-se sempre

Cecília

uma gabardina antiga que pouco depois de casado já não me servia e a minha mulher guardava porque a tinha vestida na primeira vez que a vi, lembram-se sempre do que nós já esquecemos e censuram-nos por isso, nem sequer com palavras, basta um olhar 

 

António Lobo Antunes – A Última Porta Antes da Noite (2018)

Publicações Dom Quixote (2018)

 

 

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15
Abr20

olhar para as coisas como elas são

Cecília

Não havia volta a dar (...) Há coisas que não param depois de terem sido postas em movimento (...) 

Às vezes é preciso que os anos passem para que uma pessoa consiga olhar para as coisas como elas são. E assim de uma maneira geral as coisas não são o que queríamos.

Mas isso tu já sabes. 

 

Hugo Mezena – Gente Séria (2017)

Planeta Manuscrito (2018)

 

 

 

 

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