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Nariz de cera

anotações e apontamentos que dizem tudo - de, por e para mim - por si mesmos.

anotações e apontamentos que dizem tudo - de, por e para mim - por si mesmos.

Nariz de cera

22
Nov21

dia de Santa Cecília

Cecília

Stefano Moderno, "Saint Cecilia," 1599, church of St. Cecilia, Trastevere, Rome

In the sculpture, St. Cecilia extends three fingers with her right hand and one with her left, testifying to the Trinity. The sculptor attested that this was how the saint's body looked when her tomb was opened in 1599.

Photographed at the church of St. Cecilia, Trastevere, by Richard Stracke. 

https://pt.wikipedia.org/wiki/Cec%C3%ADlia_de_Roma#/media/Ficheiro:CeciliaMaderno.jpg

Faz sentido que Cecília seja a padroeira da música?
Em dia de Santa Cecília, padroeira da Música e dos músicos, voltemos o nosso olhar para aqueles e aquelas que dão a totalidade do que são a uma arte que, não só lhes exige toda a sua inteireza, como a pujança da sua vitalidade [...]

Parece-me, na verdade, que o nosso tempo, em muito marcado pela desconfiança e pela superficialidade, anseia por Verdade e coerência, e essas só são possíveis por via do testemunho sincero, do testemunho que robustece a mensagem com a vitalidade do mensageiro. E se isto assim é para tantas dimensões da nossa existência, é-o tanto mais para a cultura e, portanto, para os artistas. Quem são aqueles que nos marcam quando os escutamos? Quais são as vozes que nos ficam, que nos comovem, que nos abanam ou reconfortam? Estou convencido de que são as que estão carregadas da vida do cantor [...] vozes que, confessando as suas próprias convicções, se tornam proféticas no seu olhar sobre a realidade que os rodeia, apontando caminhos e esperando o melhor que virá. Este, a meu ver, é um dos papéis fundamentais de um músico, qualquer que seja o seu estilo, nos dias de hoje: o testemunho das suas próprias convicções, a profundidade naquilo que executa e transmite, o compromisso com o mundo que o rodeia [...]

Nos nossos dias, um músico sabe, à partida, que por amor à arte a que se sente chamado, virá a sofrer privações, a ter de tomar opções que, doutro modo, não seriam as suas. Por isso, a vocação de um músico tem também muito de sacrifício, isto é, de martírio, de entrega e até mesmo de possível sofrimento, além daquele que o próprio acto de criar lhe exige. Mas esse “martírio”, por outro lado, é também ele o que confirma o verdadeiro artista, em certo modo, à semelhança do ouro que é purificado pelo fogo: é prova e teste às suas convicções, que as robustece e fortalece a sua entrega àquilo a que se sente chamado.

Testemunho e martírio: duas características essenciais num músico dos nossos dias, que, provando a genuinidade da sua vocação artística, lhe conferem a solidez necessária para que a sua arte seja sinal profético, interpelador e profundo. Afinal, talvez faça mesmo sentido que Cecília seja a padroeira da Música…

in https://pontosj.pt/opiniao/faz-sentido-que-cecilia-seja-a-padroeira-da-musica/

 

24
Ago21

fundamentos

Cecília

Perceber os «outros» como menos humanos, permite à maioria recusar-lhes atenção e invisibilizar o seu sofrimento, tornando a sua discriminação mais provável. Em nome dos «nossos», a rejeição de outros povos e a sua inferiorização têm-se registado na história das sociedades, baseadas em motivos económicos ou políticos, em diferenças salientadas nas características físicas, nas crenças, nos comportamentos, nos modos de vida, nos costumes e na religião. Neste sentido, pode dizer-se que existiu um «protorracismo» antes da teorização da ideia de raça e da sua fundamentação biológica, como viria a acontecer no século XIX. O racismo cultural com que nos confrontamos hoje é um prolongamento do racismo biológico sistematizado no século XIX e envolve os mesmos princípios, como a ideia de essência e a ideia da hierarquia e dominação [...] Recentemente, a Comissão Europeia criou uma Missão para «a defesa do modo de vida europeu», um suposto credo europeu. Esta Missão tanto pode, segundo uns, responder aos apelos daqueles que olham para as migrações e os refugiados com as lentes do racismo biológico ou cultural, vendo neles uma ameaça «ao modo de vida europeu», como pode, segundo outros, promover os «direitos humanos, a liberdade, a democracia, a igualdade e o Estado de direito». Um terreno ambíguo, portanto. Um terreno tão ambíguo, que a Missão passou a designar-se «promoção do estilo de vida europeu», sinal de uma perspectiva assimilacionista que não anula o problema de fundo.

Até agora, contudo, a maioria dos Europeus tem resistido ao racismo e à sua mutação para uma base cultural [...] A sobrevivência desta norma e a sua evolução para uma norma pró-igualitária dependerá da reflexibilidade coletiva sobre os fundamentos da democracia. 

 

Jorge Vala – Racismo, Hoje, Portugal em Contexto Europeu (2021)

Fundação Francisco Manuel dos Santos, Jorge Vala (2021)

 

 

19
Jul21

o jogo do fogo das coisas que são

Cecília

Era 1h15m. Os jovens militares não compreendiam nada do que se passava. Pouco depois de terem formado, aparece-lhes à frente o tal capitão, que lhes faz um discurso bastante simples: «Há várias formas de Estado: Estados liberais, estados democráticos e... o estado a que "isto" chegou. Vamos fazer um golpe de estado. Só vem quem quer. Quem não quiser, não vem.»

Entre esses «bravos» há um cadete de segundo ciclo que dá pelo nome de Francisco Fernando de Moncada de Sousa Mendes. Tem 21 anos, e é neto de Aristides e de Angelina de Sousa Mendes. É meu primo em primeiro grau, e também ele conhece bem o drama vivido pela mãe, Clotilde, pelos avós e demais familiares. Claro que o jovem diz que sim, que quer viver este momento histórico [...]

Gosto de pensar que é mais do que mera coincidência o facto de, entre os 240 que saíram nessa noite da Escola Prática de Cavalaria de Santarém em viaturas blindadas para irem fazer o tal golpe de Estado a Lisboa, haver um descendente directo de Aristides de Sousa Mendes [...] Alguém terá mais tarde dito a Francisco Fernando que o acaso não existe, e que havia uma razão para ele se encontrar naquele preciso momento na Escola Prática de Cavalaria na especialidade de atirador de cavalaria... 

 

António Moncada S. Mendes – Aristides de Sousa Mendes, Memórias de Um Neto
Edições Saída de Emergência e António Moncada S. Mendes  (2017)

 

 

06
Jul21

compaixão €€€€€€€xpr€€€€€€€ssssss

Cecília

O tempo passava, e Aristides não perdia a esperança de que melhores dias viessem, apesar do seu estado de saúde deteriorado, pelo derrame cerebral e pela situação absurda em que se encontrava. Houve quem lhe sugerisse que se dirigisse a um influente amigo de Salazar - António Cerejeira, o cardeal-patriarca. Sempre otimista, o meu avô assim fez. Finalmente, obteve uma resposta: «Que se dirigisse a Fátima e aí rezasse pela intercessão de Nossa Senhora.»

 

António Moncada S. Mendes – Aristides de Sousa Mendes, Memórias de Um Neto
Edições Saída de Emergência e António Moncada S. Mendes  (2017)

 

 

 

16
Jun21

deixem passar

Cecília

Várias pessoas com quem contactei (algumas já falecidas), falaram-me desses momentos, inesquecíveis para quem os viveu. Como Henri Zvi Deutsch, jovem adolescente na altura, que me contou que os pais, fugidos da Alemanha, nem papéis tinham - com eles apenas traziam fé e esperança. Zvi Deutsch mencionou-me o tipo de vistos que vários autores consideram como únicos na história da diplomacia mundial e que o cônsul de Bordéus terá produzido às centenas. Tratava-se de um simples pedaço de papel onde Aristides (ou talvez um dos seus filhos) escrevia o seguinte texto: «O governo português pede às autoridades francesas e espanholas que deixem passar o portador, ou portadores, deste visto de trânsito temporário. Trata-se de um refugiado, ou refugiados, do conflito armado a decorrer na Europa, a caminho de Portugal.» 

 

António Moncada S. Mendes – Aristides de Sousa Mendes, Memórias de Um Neto
Edições Saída de Emergência e António Moncada S. Mendes  (2017)

 

 

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