falar e dizer
amigos que falavam sem freio como o Nélson e por amigos como o Samuel, cujo silêncio dizia mais.
Afonso Reis Cabral – Pão de Açúcar
Publicações Dom Quixote (2018)
PAR Impar 1 2 1 (1915-16)
Amadeo de Souza Cardoso
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amigos que falavam sem freio como o Nélson e por amigos como o Samuel, cujo silêncio dizia mais.
Afonso Reis Cabral – Pão de Açúcar
Publicações Dom Quixote (2018)
PAR Impar 1 2 1 (1915-16)
Amadeo de Souza Cardoso
- São rosas, senhor - grunhia a dona Maria da Conceição. - São rosas!
Dizia-o com os olhos tão abertos que conseguíamos ver o trapo em que a rainha transportava o pão abrir-se. O pão para os pobres. E de lá de dentro saltavam flores.
- Flores vermelhas - continuava. - Vermelhas como o sangue com que se fez a nação.
De maneira que era tudo muito bem explicado. Voltávamos para casa cheios de pensamentos acerca dessa rainha, que se metia em alhadas por causa dos pobres. Os pobres que o rei, o rei mauzão, não queria ajudar. E a história de Inês de Castro: «Poupai ao menos os meus filhos, eles não têm culpa, senhor», dizia a professora. Mas a melhor parte era quando D. Pedro dava caça aos assassinos da sua amante, que nos era descrita como sua esposa. Legítima esposa. «E arrancou-lhes o coração pelas costas!», dizia a professora. Sobre o facto, também, de os filhos de D. Inês e D. Pedro serem ilegítimos, nem uma palavra. Acerca do embaraço que isso colocava à coroa, muito menos. Sobre os problemas com Castela, muito menos ainda. Nada. Silêncio.
Os reis desfilavam à nossa frente, seguidos pelos seus séquitos, sempre prontos a partir para a guerra. Havia comandantes a rezar à Virgem Maria atrás de uma pedra antes de a batalha começar. Reis que iam voltar numa manhã de nevoeiro que acabaria por chegar. D. Afonso Henriques, que tinha mentido ao papa acerca da doação de uns quantos sacos de ouro ao ano e por isso estava no inferno.
Depois vinham as perguntas. Quem foi o terceiro rei da dinastia de Avis? Como se chamavam os pretendentes ao trono durante o interregno que perdurou de mil trezentos e oitenta e três a mil trezentos e oitenta e cinco? Por quantas embarcações era constituída a armada portuguesa que partiu nesse saudoso ano de mil quatrocentos e quinze à conquista de Ceuta?
Hugo Mezena – Gente Séria (2017)
Planeta Manuscrito (2018)
Assim te insurges, leal, frente ao silêncio.
O mesmo espaço visível, ocupa-o.
(...)
Amanhã será sempre hoje este momento.
Outro, pleno e vão.
(...)
Em ti mesmo dá lugar ao espaço.
António Ramos Rosa in OCUPAÇÃO DO ESPAÇO - Obra Poética I
Assírio & Alvim (2018)
O silêncio era, portanto, uma das maneiras que o avô tinha de nos fazer compreender o que pensava acerca de determinado assunto.
A outra eram os gritos.
Os suspiros também eram uma forma de nos transmitir o que sentia. E uma determinada forma de pigarrear, que se escutava uma vez por outra (...)
Hugo Mezena – Gente Séria (2017)
Planeta Manuscrito (2018)
porque se pode murmurar para uma pessoa enquanto se ensurdece outra e tudo vibra, ao mesmo tempo em silêncio e explodindo
António Lobo Antunes – A Última Porta Antes da Noite (2018)
Publicações Dom Quixote (2018)
há sons que desequilibram
António Lobo Antunes – A Última Porta Antes da Noite (2018)
Publicações Dom Quixote (2018)
Ao contrário do duque, não tinha qualquer vontade de que me sentasse em silêncio junto dele - longe disso. Adorava inteligência e conversa.
Wray Delaney - Memórias de Uma Cortesã (2016)
Quinta Essência, Oficina do Livro (2017)
Deux mères (1888)
Maxime Faivre
Põe o tempo o cuidado
que ignora o ouvido
e que o livro não dá.
É dele este silêncio,
este saber,
este ouvir e calar.
(...)
É dele o pouco a pouco,
o aproximado,
o justo.
(...)
É doce e grande
o tempo.
(...)
Põe o tempo o cuidado.
Mas não põe as estrelas.
Perde o olhar o brilho.
Mas o mar não se perde.
António Ramos Rosa in Antecipação à Velhice - Obra Poética I
Assírio & Alvim (2018)
Hoje Eu Sei
Vanessa da Mata / Jonas Myrin
(Sereia de Água Doce / Duva Songs/Songs of Universal, Inc. [BMI])
Na minha vida hoje eu sei
Quem é dor, quem é luz, quem é fuga
Quem estraga ou quem estrutura
Quem é adubo, terra ou rosa
Hoje eu sei quem é conto, romance ou prosa
O silêncio amigo ou a cobra
Só não sei quem é o mistério
Ninguém me ensinou a amar
Me cuidar ou escolher
Das sutilezas entre tédio e paz
Sempre acompanhada e só,
Merecia muito mais, de mim mesma
O tempo entregou você
Depois que aprendi dizer não
E retirei o que me atrasava
Limpei minha estrada antiga
Mudei minhas velhas formas
Fiz a faxina pra você entrar
Ninguém me ensinou a amar
Me cuidar ou escolher
Das sutilezas entre tédio e paz
Sempre acompanhada e só,
Merecia muito mais, de mim mesma
O tempo entregou você
Depois que aprendi dizer: não
E retirei o que me atrasava
Limpei minha estrada antiga
Mudei minhas velhas formas
Fiz a faxina pra você entrar
Lá, lá, lá...
Aonde a fome vivia
Joguei minhas cores fartas
E como a natureza é sábia
Tem mazelas, mas tem cura
A solidão fazia casa mas
Plantei minhas jaboticabas lá
Dou-te um nome de água
para que cresças no silêncio.
Invento a alegria
da terra que habito
porque nela moro.
Invento do meu nada
esta pergunta.
(Nesta hora, aqui.)
(...)
Amor, eu sei que vives
num breve país.
Os olhos imagino
e o beijo na cintura,
ó tão delgada.
Se é milagre existires,
teus pés nas minhas palmas.
Ó maravilha, existo
no mundo dos teus olhos.
Ó vida perfumada
cantando devagar.
Enleio-me na clara
dança do teu andar.
Por uma água tão pura
vale a pena viver.
Um teu joelho diz-me
a indizível paz.
António Ramos Rosa in Teu Corpo Principia
António Ramos Rosa - Obra Poética I
Assírio & Alvim (2018)
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