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Nariz de cera

anotações e apontamentos que dizem tudo - de, por e para mim - por si mesmos.

Nariz de cera

anotações e apontamentos que dizem tudo - de, por e para mim - por si mesmos.

bodes, segredos e planos

17.05.21

Hoje, estes documentos são conhecidos e incontornáveis em qualquer trabalho sobre Aristides de Sousa Mendes, tal como o testemunho do rabino Kruger e vários outros, que confirmam a bondade do gesto do meu avô em Bordéus. Para mim, é díficil entender como é que um doutoramento da Universidade de Coimbra, em 2013, ignora totalmente tais testemunhos, e até sugere que o processo contra Aristides, em 1940, foi uma «mentira arranjada pelo regime de Salazar para desviar de si as atenções e proteger um certo secret d'état». Aristides de Sousa Mendes - o mau funcionário, dizem "eles" - serve apenas de bode expiatório para esconder algo de muito superior que estaria a ser projetado por Salazar e pelos seus próximos (a tese de que Salazar, no fundo, era um "humanitário escondido"). Ao que parece, o meu avô ter-lhes-á estragado os planos... 

 

António Moncada S. Mendes – Aristides de Sousa Mendes, Memórias de Um Neto
Edições Saída de Emergência e António Moncada S. Mendes  (2017)

 

 

memória coletiva

11.05.21

«No dia 10 de maio de 1940, fomos acordados em sobressalto por um barulho estranho; lá fora estava um belo dia cheio de luz e vimos aviões sobrevoando Bruxelas, largando bombas que pareciam grandes objetos cor de prata, brilhando ao sol. Ao ligarmos a rádio, ouvimos dizer que a Bélgica, a Holanda e o Luxemburgo tinham sido invadidos na vèspera pela Alemanha e a população era convidada a manter-se à escuta para ouvir outras informações» [...] Foi assim, de surpresa, como era próprio da Blitzkrieg. Não se avisava ninguém e era só avançar, aterrorizando e esmagando o povo invadido. Os belgas, os franceses e outros povos voltavam 20 anos para trás. As estradas tornaram a encher-se de famílias que levavam alguns bens que na desgraça lhes pudessem valer, e alguns alimentos. Os belgas dizem que dois milhões de compatriotas seus se puseram em fuga. Outros falam em dois milhões e meio.

Nesta sua crónica mais tarde transformada em livro, Lucie Matuzewitz continua a descrever a sua odisseia [...] «Apanhámos o último comboio que saía para Paris; os comboios seguintes foram bombardeados e nunca chegaram ao destino. As estradas estavam completamente bloqueadas com automóveis dirigindo-se para sul [...] havia aviões que metralhavam em voo picado os refugiados que caminhavam ao longo das estradas [...] passámos uma noite muito agitada, porque uma bomba caiu ao lado da Torre Eiffel, perto do nosso hotel [...]. Decidimos ir para Bordéus. Infelizmente, poucos dias depois todo o governo francês estava nesta cidade. Uma nuvem de refugiados vindos do norte de França, da Bélgica, da Holanda, deambulava agora pelas ruas, dormindo nos parques e nas estações, não encontrando alojamento [...].»

 

António Moncada S. Mendes – Aristides de Sousa Mendes, Memórias de Um Neto
Edições Saída de Emergência e António Moncada S. Mendes  (2017)

 

 

a saúde está no coração

03.03.21

Sebastião (...) ao despedir-se do pai prometeu-lhe, diante da mãe, que iria contar ao mundo a história da atitude heroica do cônsul de Bordéus em 1940. E assim o fez. Em agosto de 1945 instalou-se na Califórnia, e com o irmão Carlos Francisco Fernando começou a divulgar o gesto de rebeldia praticado pelo pai, que tantas vidas tinha salvado, e que era uma verdadeira proclamação dos direitos humanos. Escreveu vários rascunhos (...)

Mas nos anos que se seguiram ao apocalipse que foi a Segunda Guerra Mundial, a Humanidade não estava preparada para ler histórias de morte, destruição e iniquidade. As pessoas queriam olhar para um futuro menos escuro, menos duro. Acabavam de sair do inferno, queriam esquecê-lo, queriam aproveitar o que a vida tinha de bom para lhes oferecer, e deixar para trás os anos de luta e desesperança. É verdade que havia filmes sobre a guerra, e as pessoas iam ao cinema vê-los, mas era difícil o processamento, de um ponto de vista mais racional, mais intelectual, de um horror como a carnificina que foi o Holocausto. Era muito penoso, como coletivo, termos de nos interrogar sobre as razões que permitiram que tal monstruosidade acontecesse. 

Teriam de passar 70 anos para que os países que participaram na Segunda Guerra Mundial se voltassem para esse período da História, fizessem eles parte dos vitoriosos ou dos derrotados. Essa já era uma história que tinha sido vivida pelos nossos avós, duas gerações tinham nascido e crescido depois daquele horror, e agora desejavam compreender minimamente aquilo que pais e avós não puderam entender. 

 

António Moncada S. Mendes – Aristides de Sousa Mendes, Memórias de Um Neto
Edições Saída de Emergência e António Moncada S. Mendes  (2017)

 

 

recuperações históricas

07.01.21

A recuperação da memória de Aristides de Sousa Mendes estava afirmada e confirmada [...] Fizeram-se muitos trabalhos escritos sobre o tema, e pelo menos dois doutoramentos. Um deles é da autoria da Dra. Raquel Limão Andrade, filha daquele jovem de 20 anos, Manuel Lourenço de Andrade, que em 1940 se preocupava todos os dias com os refugiados que chegavam de comboio a Vilar Formoso, intitulado O diplomata que se fez refugiado, em que analisa o aspeto espiritual e o sentimento de solidariedade e compaixão do cônsul. 

 

António Moncada S. Mendes – Aristides de Sousa Mendes, Memórias de Um Neto
Edições Saída de Emergência e António Moncada S. Mendes  (2017)

 

 

fonte segura

08.09.20

Esses registos ficarão para sempre guardados na minha memória e comigo, por uma única e simples razão: as conversas que se têm com os amigos não se divulgam sem autorização. 

 

Manuela Gonzaga – António Variações, Entre Braga e Nova Iorque (2018)

Manuela Gonzaga e Bertrand Editora (2018)

 

 

sonho e memória

26.08.20

Acabada a escola, tinham à sua espera o complemento do trabalho familiar. Dar de comer ao gado, ajudar no campo, e mais e mais. Todos os dias. Os relatos sobrepõem-se e não chegam do fundo dos tempos. São frescos de uma arrepiante contemporaneidade:

- Lá em casa dividíamos uma sardinha por quatro. 

- Nós dividíamos uma sardinha por sete.

- Eu passei muita fome.

[...]

- Mas quando tocava a brincar, era uma alegria! Era tudo da nossa imaginação e do nosso engenho. Dançávamos, cantávamos, bailávamos. Foram tempos que ninguém sonha como eram. E, contudo, éramos alegres, divertíamo-nos com nada, construíamos os nossos brinquedos. Tristes das crianças de hoje a quem entregam tudo feito e não aprendem a sonhar. 

 

Manuela Gonzaga – António Variações, Entre Braga e Nova Iorque (2018)

Manuela Gonzaga e Bertrand Editora (2018)

 

 

 

baús

15.04.20

porque quem não tem um baú na cabeça cheio de tralha antiga, episódios na aparência sem nexo de repente a ganharem sentido 

 

António Lobo Antunes – A Última Porta Antes da Noite (2018)

Publicações Dom Quixote (2018)

 

RMS Titanic

Afundou no oceano Atlântico
em 15 de abril de 1912

 

la-tragedia-de-hillsborough.jpg

A "Tragédia de Hillsborough" foi um incidente que ocorreu em 15 de abril de 1989 no Estádio Hillsborough, em Sheffield (Inglaterra) durante o jogo entre Liverpool FC e Nottingham Forest

Atentado à Maratona de Boston de 2013 foi uma série de ataques e incidentes que começou no dia 15 de abril de 2013

O incêndio da Catedral de Notre-Dame de Paris foi um incêndio violento que se deflagrou na Catedral de Notre-Dame de Paris em 15 de abril de 2019