a sociedade rica e na moda tem pouca ou nenhuma substância, vivendo obcecada apenas consigo. O seu desporto é principalmente os escândalos, alimenta-se de mexericos e custa a imaginar como passaria a sociedade os seus dias sem eles.
Mas neste início da década de 70, enquanto o mundo dá voltas e que voltas!, os jornais, em Portugal, ocupam-se em noticiar, em grandes parangonas de primeira página, acidentes de automóvel ou calamidades atmosféricas, misturando-as com fotografias de atrizes ou princesas em evidência por qualquer razão menor (...) Um interminável bocejo.
Manuela Gonzaga – António Variações, Entre Braga e Nova Iorque (2018) Manuela Gonzaga e Bertrand Editora (2018)
O pai, exímio tocador de cavaquinho e harmónica, era o chefe de uma banda familiar onde todos cantavam e dançavam, congregando, mesmo em alturas mais difíceis, um clima de festa que filho algum conseguiu esquecer.
Manuela Gonzaga – António Variações, Entre Braga e Nova Iorque (2018) Manuela Gonzaga e Bertrand Editora (2018)
Paulo da Costa Domingos – Carmina (1971-1994) Antígona (1995)
Agora eu vou cantar pros miseráveis Que vagam pelo mundo derrotados Pra essas sementes mal plantadas Que já nascem com cara de abortadas Pras pessoas de alma bem pequena Remoendo pequenos problemas Querendo sempre aquilo que não têm
Pra quem vê a luz Mas não ilumina suas minicertezas Vive contando dinheiro E não muda quando é lua cheia Pra quem não sabe amar Fica esperando Alguém que caiba no seu sonho Como varizes que vão aumentando Como insetos em volta da lâmpada
Vamos pedir piedade Senhor, piedade Pra essa gente careta e covarde Vamos pedir piedade Senhor, piedade Lhes dê grandeza e um pouco de coragem
Quero cantar só para as pessoas fracas Que tão no mundo e perderam a viagem Quero cantar o blues Com o pastor e o bumbo na praça Vamos pedir piedade Pois há um incêndio sob a chuva rala Somos iguais em desgraça Vamos cantar o blues da piedade
Vamos pedir piedade Senhor, piedade Pra essa gente careta e covarde Vamos pedir piedade Senhor, piedade Lhes dê grandeza e um pouco de coragem
Ao contrário de todo mundo, que fica se ressentindo 'porque ela me deixou, não sabe o que perdeu', eu não tenho medo de dizer: eu é que fui covarde e babaca.
Cazuza
Y ahora intenta decir que me amas Sin miedo a que parezca mentira otra vez Y no lo ves Digo yo que algo tendremos que hacer Borra de golpe Su nombre en mi nombre Y así lo olvidaré Y mira bien Mientras yo te reproche de más Y tu te escondas con la duda otra vez No quiero mas pulsos Hay tanto que perder Hazme sentir que lo bueno está por llegar Que esto también pasará Hazme sentir que compartimos un mismo latir
Aquele era o problema de ser escritor, o principal problema - tempo livre, demasiado tempo livre. Era preciso esperar pela acumulação de ideias antes de se poder escrever, e enquanto se esperava enlouquecia-se, e enquanto se enlouquecia bebia-se, e quanto mais se bebia mais louco se ficava. Não havia nada de glorioso na vida de um escritor ou na vida de um bêbado.
Charles Bukowski in 400 Quilos - Música para Água Ardente (1983)
- Idiotas - disse Jorg, enquanto desciam as escadas - , desperdiçam a vida com disparates e atravancam a minha.
- Oh, Jorg - suspirou Arlene. - Não gostas mesmo de pessoas, pois não?
Jorg ergueu a sobrancelha, não lhe respondeu. A resposta de Arlene aos seus sentimentos em relação às massas era sempre a mesma; como se o facto de não gostar de pessoas revelasse um defeito imperdoável da alma. Mas ela era uma foda excelente e era agradável tê-la por perto... quase sempre.
Charles Bukowski in Menos delicado do que o gafanhoto - Música para Água Ardente (1983)