23 de abril - dia mundial do livro
O director geral convida-te a observar o planisfério pendurado na parede. A coloração diferente indica:
os países em que todos os livros são sistematicamente apreendidos;
os países em que só podem circular os livros publicados ou aprovados pelo Estado;
os países em que existe uma censura boçal, pouco rigorosa e imprevisível;
os países em que a censura é subtil, culta, atenta às implicações e às alusões, gerida por intelectuais meticulosos e astutos;
os países em que as redes de difusão são duas: uma legal e outra clandestina;
os países em que não há censura porque não há livros, mas existem muitos leitores potenciais;
os países em que não há livros e ninguém lamenta a sua falta;
os países, por fim, em que saem todos os dias livros para todos os gostos e para todas as ideias, no meio da indiferença geral (...)
Que dado permite distinguir melhor as nações em que a literatura goza de verdadeira consideração do que as verbas aplicadas no seu controlo e repressão? Onde é objecto de tais atenções, a literatura adquire uma autoridade extraordinária, inimaginável nos países onde a deixam vegetar como um passatempo inócuo e sem riscos.
Italo Calvino – Se Numa Noite de Inverno Um Viajante (1979)
Coleção Mil Folhas PÚBLICO (2002)
Jean-Pierre Couarraze
Colonne du savoir