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Nariz de cera

anotações e apontamentos que dizem tudo - de, por e para mim - por si mesmos.

anotações e apontamentos que dizem tudo - de, por e para mim - por si mesmos.

Nariz de cera

28
Mar23

Some of us are wise / Every other person over wise / Organize

Cecília

Veste a bata, vai buscar o carrinho a transbordar de detergentes, panos e esfregonas e segue o seu caminho. Tem três horas para limpar corredores, elevadores e escadas de um edifício com três andares. [...] O que se segue pode parcer simples em palavras, mas torna-se cansativo na prática: das seis às nove faz limpezas, das dez às 19 horas trabalha num call center e à terça-feira e quinta-feira, meia hora depois de terminar o atendimento a clientes de uma empresa, já está a tomar conta de uma criança, trabalho que se prolonga até às dez e meia da noite. Pelo meio, tem então uma hora entre as limpezas e o call center, uma hora de almoço, 15 minutos de descanso entre chamadas e meia hora entre o call center e o babysitting.[...] Resta dizer que, no meio de todos estes trabalhos, Ana Isabel ainda conseguiu montar o seu negócio de venda online de quiches, com sabores são-tomenses, brasileiros e portugueses.

E tudo isto, a começar nas limpezas e a terminar nas crianças, para quê? Ana Isabel só quer juntar dinheiro para conseguir pagar outro mestrado. 

 

Rita Pereira Carvalho  – As Invisíveis, Histórias sobre o trabalho de limpeza (2022)

Fundação Francisco Manuel dos Santos, Rita Pereira Carvalho (2022)

 

 

21
Mar23

dia mundial da poesia / dia mundial da árvore

Cecília

As árvores como os livros têm folhas
e margens lisas ou recortadas,
e capas (isto é copas) e capítulos
de flores e letras de oiro nas lombadas.
E são histórias de reis, histórias de fadas,
as mais fantásticas aventuras,
que se podem ler nas suas páginas,
no pecíolo, no limbo, nas nervuras.
As florestas são imensas bibliotecas,
e até há florestas especializadas,
com faias, bétulas e um letreiro
a dizer: «Floresta das zonas temperadas».
É evidente que não podes plantar
no teu quarto, plátanos ou azinheiras.
Para começar a construir uma biblioteca,
basta um vaso de sardinheiras.

 

Jorge Sousa Braga - "As árvores como os livros"

 

Muchachos trepando a un árbol (1791-1792)


Francisco de Goya

 

16
Mar23

camilo (III)

Cecília

- E tu como hás-de morrer, Camilo? - disse-lhe José Vieira de Castro, que tinha vinte anos, era estouvado, de pouco corpo e adorava Camilo. [...]

- No meio desta gente estão seis suicidas: por dívidas, por decepção amorosa e porque não fazem carreira. Fora os que acabam tísicos, e com pneumonias, porque se esqueceram das galochas e do guarda-chuva [...] Somos todos uns brutos decididos a impormo-nos pela poeira que levantamos. 

 

Agustina Bessa-Luís – Fanny Owen (1979)

Colecção Mil Folhas / Bibliotex SL / M.E.D.I.A.S.A.T. e Promoway Portugal Ltda (2002)

 

 

16
Mar23

camilo (II)

Cecília

Basta ver como Camilo usava a língua portuguesa para ficarmos informados sobre a sua vontade de poder, de conquistar a atenção, a fama e a alma da Praça. Isso acontece com o espírito que é ávido porque é extremamente sobrecarregado de talentos. Aconteceu com Shakespeare, por exemplo. A maneira como dispõe as frases, como escolhe e arremessa as palavras tem muito duma estratégia guerreira. Utiliza o alfabeto como balas e os versos como trincheiras. Julieta fala um tom acima da sua estatura feminina; Hamlet fala para a posteridade e não para a sua pequena corte de intrigantes. 

 

Agustina Bessa-Luís – Fanny Owen (1979)

Colecção Mil Folhas / Bibliotex SL / M.E.D.I.A.S.A.T. e Promoway Portugal Ltda (2002)

 

 

14
Mar23

sabedoria [de sonhar]

Cecília

«O homem que sonha é um deus, o que pensa é um mendigo.» Holderlin [...]

 

Agustina Bessa-Luís – Fanny Owen (1979)

Colecção Mil Folhas / Bibliotex SL / M.E.D.I.A.S.A.T. e Promoway Portugal Ltda (2002)

 

 

08
Mar23

sororidade(s)

Cecília

[...] Ana Isabel [...] Tem 25 anos e é a prova de que os estereótipos servem para encher egos de quem nunca quis olhar profundamente para o que está à sua frente. O preconceito existe [...] Quando pegou numa esfregona pela primeira vez, dividia os dias entre as limpezas na redação de um jornal e as aulas do mestrado na área de estatística e análise de dados, um curso que está a tirar na Universidade de Coimbra, à distância. Os números e os detergentes cruzam-se neste caminho e cada um tem uma função muito específica - os primeiros são o sonho, os segundos, o caminho para tornar esse sonho palpável. 

 

Rita Pereira Carvalho – As Invisíveis, Histórias sobre o trabalho de limpeza (2022)

Fundação Francisco Manuel dos Santos, Rita Pereira Carvalho (2022)

 

 

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