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Nariz de cera

anotações e apontamentos que dizem tudo - de, por e para mim - por si mesmos.

Nariz de cera

anotações e apontamentos que dizem tudo - de, por e para mim - por si mesmos.

Pôr-do-SNS

21.09.22

Outro dos engulhos no trabalho de Lurdes e João passava pela relação com as chefias e pelos fluxos de informação e de decisão. Chefias muitas vezes distantes, impotentes, sujeitas a remodelações constantes e à implementação sucessiva de novos modelos. «As direcções estão dispersas, às vezes muito afastadas dos centros de saúde. Criaram o ACES [Agrupamento de Centros de Saúde], e há necessidades muito diferentes que às vezes não são satisfeitas.» Por exemplo, segundo João, há exames que os médicos prescrevem e que só podem ser realizados se as chefias do ACES autorizarem. «Os médicos não têm autonomia, nem mesmo em situações de urgência. A verdade é que muitas vezes não estamos a resolver os problemas dos utentes. Uma pessoa vai com um problema grave ao centro de saúde, na zona rural, ou aqui, no Algueirão, e tem de esperar que a direção em Massamá decida.» Nos últimos tempos em que esteve ao serviço, uma das funções de João passava pelo acompanhamento dos pedidos de tratamento de fisioterapia e de terapia da fala, muito solicitados por pessoas que tivessem sofrido um AVC. Se se concluísse que o tratamento iria ter uma duração superior a 120 dias, «e em caso de AVC isso era muito comum», o pedido entrava em modo de espera, até vir aprovado pela direcção do referido ACES. «A gente punha-se no lugar daquelas pessoas e achava que elas tinham razão. Elas iam ter connosco e nós dizíamos "agora volte cá daqui a oito dias, para saber se tem direito". É claro que isso gerava revolta. E perturbava o atendimento.» Na ética de serviço de João e Lurdes, era inevitável trazer esses problemas para casa. «Imagine o que é uma pessoa a quem foi amputada uma perna, que anda a fazer trabalho de recuperação, e a quem é dito "agora tem de interromper até vir nova autorização". Os meus últimos anos de trabalho foram muito complicados por causa destas situações.» 

 

Pedro Vieira – Em que posso ser útil? (2021)

Fundação Francisco Manuel dos Santos e Pedro Vieira (2021)

 

 

transcendência precisa-se

21.09.22

[...] ensinaram que a sabedoria de vida se conquista com experiência e solidariedade e não com graus académicos; que os seres humanos, mesmo nas condições mais adversas, não perdem a esperança, o desejo de transcendência e a aspiração de justiça; que há muitos conhecimentos, para além dos académicos e científicos, muitas vezes nascidos nas lutas contra a opressão e a injustiça; que a solidariedade não é dar o que sobra mas o que faz falta; que a sociedade injusta não é uma fatalidade; e que o amanhã não é um futuro abstrato – é o amanhã mesmo.

in https://visao.sapo.pt/jornaldeletras/ideiasjl/2022-09-21-descolonizar-o-bicentenario-da-independencia-do-brasil/?utm_source=Activa&utm_medium=Gaveta_Multimarca&utm_campaign=Gavetas_Artigos_22