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Nariz de cera

anotações e apontamentos que dizem tudo - de, por e para mim - por si mesmos.

anotações e apontamentos que dizem tudo - de, por e para mim - por si mesmos.

Nariz de cera

22
Out18

o maior de todos os livros

Cecília

A maior aventura de um ser humano é viajar,
E a maior viagem que alguém pode empreender
É para dentro de si mesmo.
E o modo mais emocionante de realizá-la é ler um livro,
Pois um livro revela que a vida é o maior de todos os livros,
Mas é pouco útil para quem não souber ler nas entrelinhas
E descobrir o que as palavras não disseram...

Augusto Cury

 

 

 

 

 

 

 

 

15
Out18

passar à realidade

Cecília

Que o fosso da memória se transponha,

que seja a solidão atravessada!

Da cálida crisálida renasça

de novo para o corpo o corpo todo!

 

Venham as roucas sílabas da posse

no búzio dos ouvidos enroladas!

Sobre a teia das veias impalpáveis,

reconstrua-se a cúpula dos olhos!

 

Que tudo, tudo, súbito se emprenhe

da realidade que a lembrança apenas

em folha de álbum, ressequida, guarda!

 

Que eu vá de novo decorar-te a seiva,

como um poema líquido que seja

urgente recitar na eternidade!

 

 

 

 

David Mourão-Ferreira - Voto 

Tempestade De Verão (1954)

 

14
Out18

uma questão de fé

Cecília

É praxe que Zé Pelintra faça uma espécie de discurso de abertura, antes das consultas começarem. Ele fala sobre a plenitude do ser humano, alcançada somente quando sua verdadeira essência é seguida. Que o passado não dá respostas e que o olhar deve ser à frente. Que todo mundo colhe o que planta (...) Ele está terminando o atendimento de uma senhora e pede para que eu preste atenção. De forma simplista, ela tem um restaurante e acha que um concorrente está de olho gordo pra cima do negócio. Zé Pelintra ri, e diz que o sucesso só depende dela. Essa, aliás, é uma das principais lições que ele passa, de que nós somos responsáveis pelo nosso destino (...). 

Questiono, então, já que o destino a nós pertence, por que aquele lugar está cheio. “É que as pessoas são desesperadas”, me diz Zé Pelintra. Elas não confiam em si mesmas e precisam que alguém lhes diga o que fazer. Ali, aparece gente com os mais variados problemas. Do básico, como a crise financeira que atinge um comerciante, aos números de um processo judicial. Pedem também pelos filhos, por um amor, por emprego.

Agarrado à garrafa de 51, seu Zé me fala que nós somos responsáveis pelo o que acontece em nossa vida.

 

in https://medium.com/uma-quest%C3%A3o-de-f%C3%A9/meu-encontro-com-z%C3%A9-pelintra-8874f1c60acc

 

 

 

 

 

 

 

12
Out18

sistema de pensamento

Cecília

Pode acontecer que muitos, indivíduos ou povos, julguem, mais ou menos conscientemente, que «todos os estrangeiros são inimigos». Na maioria dos casos esta convicção jaz no fundo dos espíritos como uma infecção latente; manifesta-se apenas em actos esporádicos e desarticulados e não se constitui num sistema de pensamento. Mas quando tal acontece, quando o dogma não enunciado se torna premissa maior de um silogismo, então, no fim da cadeia, encontra-se o Lager. Ele é o produto de uma concepção do mundo levada às extremas consequências com rigorosa coerência: enquanto a concepção subsistir, as consequências ameaçam-nos. A história dos campos de extermínio deveria ser interpretada por todos como um sinal sinistro de perigo. 

 

 

Primo Levi – Se Isto É Um Homem (1947)
Coleção Mil Folhas PÚBLICO (2002)

 

 

 

08
Out18

prisão

Cecília

Para encherem a noite, os grilos não precisam mais que de uma lura. 

Mesmo no cativeiro continuam a cantar...

 

Para o homem, momentos há -- e é doloroso reconhecê-lo -- em que até o universo é uma prisão.

 

Jorge Sousa Braga - Ao Relento

 

 

in O Poeta Nu [poesia reunida]

Assírio & Alvim (abril 2014)

 

 

 

 

08
Out18

compras de emergência

Cecília

Na primeira mercearia, o senhor Manuel, que já não era o jovem de há quarenta anos, carregava com dificuldade os caixotes de madeira para dentro, cheios de tristeza e azia. Desde que tinha sido completamente rodeado pelos hipermercados à entrada do subúrbio que o parco negócio que ele ainda conseguia fazer tinha ficado reduzido às compras de emergência. Nem as clientes de décadas, que até tinham tido direito a entregas gratuitas ao domicílio, queriam saber que ele continuava a levantar-se todos os dias às quatro da manhã para se ir abastecer e de seguida as desentalar sempre que o planeamento semanal dos jantares falhava. Elas agora só queriam promoções, sorteios, cartões de cliente e quilos de sacos grátis para o lixo. Elas, que tinham feito dele um homem rico, vingavam-se agora por todos os anos em que ele lhes tinha ferrado nos preços dando azo a inúmeras discussões domésticas.

 

Ricardo Adolfo,  Mizé - Antes gálderia do que normal e remediada 

Alfaguara (2011)

 

 

 

 

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